quinta-feira, 14 de junho de 2007

Do buraco

Ser mulher é um segredo difícil de dividir. Ser mulher é um abismo. É um buraco sem fundo, é uma necessidade de completude maior que os dedos e a língua, maior que um pênis ereto, maior que um banho de esperma, maior que um feto, maior que um bebê completo, maior do que filhos e mais filhos.
É um buraco na alma que o feminino traz e que é condição ser e é condição não querê-lo.
Ser mulher é uma benção e uma desgraça. É uma força imensa e desarmada. É ser continente e ser morada. E continuar desesperada.
A mulher é uma fraude. Compete a ela ser o desfalque e recompor esse desfalque. Ao mesmo tempo. Através da dor de gerar e parir e seguir vazia depois de tudo isso.
Preencher e esvaziar-se, preencher e esvaziar-se.
E sangrar, sangrar e sangrar para se lembrar que o buraco é dor, que o buraco é mágoa, que o buraco é força e é também fraqueza.
Que o buraco é fundo. E acabou-se o mundo.